Eles jogam mísseis. Nós perdemos nossos filhos.
Em cada discurso inflamado transmitido ao mundo, o que não se vê são os olhos de uma mãe que acabaram de secar de tanto chorar. Em cada decisão estratégica, não se ouve o silêncio brutal de uma família inteira soterrada. Em cada reunião de cúpula, não se sente o cheiro de sangue e fumaça que invade os quartos infantis onde antes havia risadas.
Os líderes seguem impassíveis. Falam em honra, em defesa, em soberania. Mas quem defende os civis, os estudantes, os comerciantes, os avós, os recém-nascidos?
A guerra não é travada entre os que a declaram. Os que a declaram estão seguros, protegidos, escoltados, com água potável, suprimentos e rotas de fuga. A guerra é travada no corpo dos inocentes, no chão das cidades comuns, no berço dos que nada decidiram.
Do outro lado do mundo, há quem assista como se fosse um jogo. Quem vence? Quem perdeu mais soldados? Qual cidade caiu hoje? E assim a tragédia vira placar. A dor vira estatística. E a morte vira espetáculo.
Guerras são, no fundo, disputas de tronos. Mas quem sangra são os corpos anônimos. Quem some nos escombros são os sonhos comuns. Quem morre não é o poder, é o povo.
E mesmo assim, eles jogam mais mísseis.
E mesmo assim, nós seguimos enterrando nossos filhos.