Durante anos, tentamos acreditar que as coisas iriam melhorar. Que as crises eram passageiras, os reajustes normais e que tudo fazia parte de um ciclo natural da economia. Mas os ciclos mudaram.
E as prateleiras do supermercado - tão comuns, tão rotineiras - tornaram-se agora testemunhas silenciosas do colapso que se arrasta diante dos nossos olhos.
Quem frequenta feiras, mercados ou padarias populares sabe: algo está muito errado. O ovo e o café, por exemplo, símbolos da sobrevivência alimentar do brasileiro, viraram artigos de luxo.
E não estamos falando de lojas gourmet. São mercados de bairro, onde famílias com salário mínimo ou auxílio do governo buscam seus mantimentos do mês - e saem de lá com sacolas quase vazias e olhos cheios.
A inflação já não é mais apenas uma palavra usada pelos economistas nos jornais. Ela tem nome e rosto: é o idoso que conta moedas para levar um pão francês. É a mãe que troca a carne por macarrão instantâneo.
É o pai de família que pula refeições para garantir leite aos filhos. É o jovem
que abandona o carrinho no caixa por falta de saldo. É a nova realidade de milhões.
O colapso econômico do Brasil não se anunciou com tanques na rua ou quedas de governo - ele está no silêncio angustiante dos corredores do supermercado. Cada aumento diário, cada produto fora de alcance, cada desânimo diante da gôndola vazia, é um sinal de alerta.
O mais triste é que não se trata apenas de economia. É a dignidade sendo corroída pouco a pouco. É a esperança perdendo terreno para o medo. É o Brasil que finge normalidade enquanto se desfaz em parcelas, boletos, filas de osso e empréstimos a juros absurdos.
Diziam que o colapso seria barulhento, rápido, espetacular. Mas aqui, ele veio sorrateiro, vestindo a farda da rotina, esvaziando pratos e enchendo os olhos do povo de desespero.
E você, que caminha entre essas prateleiras... já percebeu?