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Em meio ao caos que assola o Oriente Médio, uma guerra menos visível, mas igualmente cruel, se desenrola no campo das imagens e das narrativas: a propaganda. Vídeos e manchetes oriundos de mídias asiáticas, como a paquistanesa Dawn News, vêm retratando a dor do povo israelense como se fosse um troféu de guerra.

Em vez de solidariedade com civis inocentes, vemos um espetáculo midiático que transforma sofrimento em instrumento de exaltação política.

 

Títulos como “Míssil monstro destrói Tel Aviv” ou “Pânico em Israel enquanto o Irã vive normalmente” não apenas informam — eles manipulam. A escolha de palavras sensacionalistas, a ênfase em imagens de desespero e o contraste intencional entre civis em pânico e mercados tranquilos criam uma narrativa perversa: a dor de um lado vira argumento de força para o outro.

 

Essas coberturas fogem do jornalismo ético. Não há compaixão, não há compromisso com a verdade. Há, sim, uma guerra de moral e de orgulho, onde a humanidade das vítimas desaparece em meio ao ruído das bombas e ao calor dos comentários tendenciosos.

 

Tanto o povo israelense quanto o povo iraniano são, majoritariamente, vítimas de decisões políticas tomadas por governos que nem sempre os representam. Muitos israelenses não apoiam a política de seu governo, assim como muitos iranianos fogem há décadas da repressão e da guerra.

 

A dor humana — seja em Jerusalém, em Teerã ou em qualquer outra parte do mundo — não deveria ser explorada como combustível para narrativas de ódio. Ela deveria ser compreendida, respeitada e aliviada. Mostrar civis chorando em abrigos não é mostrar fraqueza de um povo. É expor o lado mais sombrio da guerra: o sofrimento dos inocentes.

 

Isso tudo é a mais pura banalização da dor humana em nome de uma suposta vitória geopolítica. Quando a destruição de lares, o colapso de edifícios e o desespero de civis se tornam motivo de euforia, algo muito profundo está se perdendo em nossa humanidade.

 

A dor nunca deveria ser troféu. Nem a dor do inimigo. Porque por trás dos escombros de qualquer lado estão mães, crianças, trabalhadores, estudantes, idosos — pessoas que nunca apertaram o botão da guerra. E ver nos comentários do YouTube frases como “esperei por esse dia” ou “que visão maravilhosa” é um sinal alarmante de como a empatia está sendo substituída por tribalismo digital.

 

Os apartamentos que viraram poeira tinham donos, famílias, histórias. E a maioria dessas pessoas, sejam israelenses, iranianos, palestinos ou de qualquer nacionalidade, não queriam guerra nenhuma. Apenas queriam viver em paz, comer com a família, trabalhar, ver os filhos crescerem.

 

Chegamos a um ponto em que imagens de corpos no chão, prédios destruídos e crianças correndo em pânico viraram entretenimento, bandeira política e munição de torcida. Em vez de chorar com a dor dos outros, muitos aplaudem como se a vida fosse um jogo — e a morte, um placar.

 

Mas não é.

 

A morte não é “vitória”. A destruição não é “vingança justa”. A guerra não é “espetáculo”.

Cada bomba que cai derruba não só concreto, mas dignidade, empatia e compaixão.

 

Deus nos deu o dom da razão, da consciência e da escolha — e ainda assim, vemos pessoas escolhendo vibrar com o sofrimento humano. Isso é um alerta. Um grito. Porque quando a dor do outro vira troféu, a gente perde o que há de mais essencial: a humanidade em nós mesmos.

 

A guerra nunca termina nas bombas — ela continua nas palavras, nas imagens, nos títulos de vídeo, nas manchetes e nos comentários que tentam transformar tragédia em espetáculo. Quando começa a propaganda, o foco deixa de ser a verdade e a compaixão, e vira apenas controle da narrativa.

 

O sofrimento das famílias é distorcido em “vitória moral”. As ruínas viram “orgulho nacional”.

E os algoritmos? Empurram mais destruição, porque sabem que a dor gera cliques, comentários e lucro.

 

É a propaganda emocional, calculada, cruel.

Imagens de escombros e crianças aterrorizadas são usadas como munição simbólica. Mas enquanto um lado comemora, o outro morre.

E quem realmente perde são todos nós.

 

Quem comemora a dor alheia se afasta da humanidade. Quem usa o sofrimento como troféu perde o direito de falar em justiça. Que a compaixão, e não o cinismo, volte a guiar os olhos de quem assiste, narra e compartilha essas tragédias.

 

Linhas Paralelas
Enviado por Linhas Paralelas em 22/06/2025
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