Enquanto as sirenes alertam civis para correr aos bunkers em Israel, e imagens de destruição tomam conta das cidades atingidas, parte da imprensa internacional se divide entre a cobertura factual e o uso propagandístico dos horrores do conflito.
Nas últimas 48 horas, diversos canais de comunicação do Oriente e do Sul Asiático - incluindo mídias da Índia, do Paquistão e de outros países - passaram a exibir com ênfase cenas de devastação em Israel, muitas vezes em contraste com imagens de calma em cidades iranianas.
Insinuando que o Irã está vencendo, usando a imagem da dor alheia como troféu. Isso é uma atitude desumana quer seja praticada por um lado ou pelo outro.
Especialistas alertam que esse tipo de abordagem distorce o senso de realidade sobre o conflito.
O que estamos vendo é a desumanização completa — quando o sofrimento vira espetáculo, estatística ou ferramenta de propaganda. Tanto o povo de Israel quanto o do Irã (e de outros países afetados) são compostos em sua maioria por pessoas que só querem viver em paz, cuidar da família, trabalhar, estudar, ter momentos de alegria. Eles não pediram por guerra, muito menos por serem usados como moeda em disputas de poder.
E o mais cruel: os civis não têm refúgio. Muitos rejeitam os governos, mas não têm força para mudar nada, e ainda pagam o preço com a própria vida, saúde, moradia e dignidade. Quando alguém transforma esse sofrimento em troféu, imagem de vitória ou “conteúdo de marketing político”, está ignorando totalmente a dor que se alastra em todas as direções — inclusive a de crianças, idosos, mulheres e inocentes dos dois lados.
Pode-se — e deve-se — criticar líderes e governos quando agem com violência, injustiça ou desprezo pela vida. Mas há uma linha que jamais deve ser cruzada: usar o sofrimento de civis como palco para guerra ideológica, como se a dor dos inocentes pudesse servir de combustível para ódio ou propaganda. Isso não é justiça — é perversão da empatia.
Nenhum povo é seu governo. O povo israelense não é seu primeiro-ministro. O povo iraniano não é seu aiatolá. Assim como o povo palestino não é o Hamas. Misturar essas coisas, expor vítimas como troféus e ironizar cenas de desespero em bunkers ou hospitais é apagar a humanidade — e contribuir com o mesmo mal que se diz combater.
Enquanto civis israelenses se amontoam em abrigos subterrâneos e enfrentam perdas materiais e psicológicas severas, o sofrimento de civis iranianos também não pode ser ignorado. Há registros confirmados de pânico, evacuação em massa e movimentação desesperada nas grandes cidades iranianas logo nos primeiros ataques.
A guerra não poupa inocentes. E a tentativa de transformar a dor alheia em instrumento de narrativa política fere os princípios mais básicos da humanidade. Ver crianças, idosos e famílias inteiras sendo alvo indireto da destruição - de ambos os lados - não deveria ser motivo de celebração nem ferramenta de influência.
A crise atual levanta sérias questões sobre os limites éticos da cobertura jornalística internacional.
A manipulação de imagens e a escolha do que mostrar - e o que esconder - moldam opiniões em um mundo onde a informação circula mais rápido do que os próprios mísseis.
Por trás de cada imagem, há uma vida. E por trás de cada vida perdida, uma tragédia irreparável.
Neste momento, o mundo não precisa de torcida, mas de sensatez. Mais do que jamais, é tempo de preservar o que ainda resta de humano em nós.